
Pesquisa mapeia as barreiras que deixam 239 mil jovens fora da escola e do mercado de trabalho no estado do Rio de Janeiro. A pesquisa aponta caminhos para mudança em até uma década
No Rio de Janeiro, aproximadamente um em cada três jovens não estuda nem trabalha ou está inserido de forma precária no mercado de trabalho. Os dados são do Mapeamento do Ecossistema de Inclusão Produtiva Jovem, estudo conduzido com apoio técnico do Veredas e lançado na quarta (26/3) pelo Decola Cria, versão carioca do Global Opportunity Youth Network (Goyn), desenvolvida pelo Instituto Aspen e articulada no Rio de Janeiro pelo Centro de Promoção da Saúde (Cedaps).
Os jovens que não estão estudando nem trabalhando enfrentam um contexto de pobreza e precisam lidar com diversos estigmas, relacionados ao território de onde vêm e às estruturas de raça e gênero. Em 2023, 239.268 jovens não estavam estudando nem trabalhando. Desses, 62% tinham entre 18 e 24 anos, na transição entre escola e trabalho. E entre os que apenas trabalham, 37% estavam inseridos em um contexto informal. A maioria são mulheres (60%), com destaque para as mulheres negras (35%).
Família
O mapeamento aponta que as famílias são agentes decisivos no avanço da formação e inserção destes jovens no mercado de trabalho, podendo contribuir de maneira positiva ou negativa. Entre os fatores relevantes na influência exercida pelas famílias destaca-se que:
- A situação financeira pode levar à necessidade de inserção precoce e em condições precárias no mercado de trabalho;
- A necessidade de dedicar-se ao trabalho doméstico, especialmente em famílias com muitas crianças e/ou idosas(os) pode afastar os jovens de outras ocupações;
- A paternidade e, sobretudo, a maternidade precoces podem interromper a trajetória das juventudes;
- A presença de adultas(os) responsáveis no domicílio pode facilitar a dedicação aos estudos;
- O estímulo das famílias (que pode estar associado ao nível de escolaridade dos pais e a outros fatores sociais) podem impulsionar as(os) jovens no seu caminho.

Acesso
O estudo também revelou que os territórios podem ser lugares de pertencimento e identidade, mas também podem gerar uma série de barreiras para os jovens se inserirem no mundo do trabalho. Entre os desafios associados aos territórios, estão a falta de oportunidades no próprio território, a precariedade de infraestrutura e residência em áreas irregulares, a dificuldade de mobilidade urbana e a violência nas suas diversas formas.
“A grande dificuldade é o acesso. Essa oportunidade nem sempre chega a pessoas de comunidades mais isoladas ou em favelas menos conhecidas. Eu venho da Favela do Quitungo, perto do Alemão, e vejo muitas pessoas que não conseguiram agarrar uma oportunidade porque não sabiam, porque essa oportunidade não chegou até elas. Desde cedo eu tive de sair de onde moro para encontrar isso”, afirma Danilo Quadra, do Conselho Jovem Decola Cria, em entrevista à Rede Globo.
Exposição e Diários de Campo
Durante a cerimônia de lançamento, ocorreu a abertura da exposição “Onde as Histórias se Cruzam”, que reúne registros de diários de campo de oito jovens do Conselho Jovem do Decola Cria, captados durante 30 dias: Danilo Quadra, Kailanny da Silva, Katlen Drummond, Larissa Lucia, Lucas Gabriel, Maria Dutra, Matheus M4GRAO e Vinícius Almeida.

Foto: Cedaps
“Vimos que, por mais que a gente tenha vindo de lugares diferentes, nossas histórias se cruzam. Seja nas dificuldades das comunidades, nas questões familiares ou no desejo de ‘dar certo’ como pessoa ou profissional”, afirmou Maria Dutra. Para Vahid Vahdat, diretor-executivo do Veredas que apresentou o estudo no lançamento, “esse processo dos jovens registrarem suas percepções em diários de campo é um conteúdo que deve ser muito celebrado, pela sua potência e força, o que enriqueceu muito todo esse processo”.
Meta: Redução da desocupação jovem em 10 Anos
O estudo também traz recomendações para reduzir o número de jovens que não estudam nem trabalham no Rio de Janeiro, entre elas:
- Empreender e apoiar pesquisas para aprimorar o conhecimento sobre quem são as juventudes da cidade do Rio de Janeiro e seus territórios;
- Atuar junto ao poder público para aprimorar políticas que possam permitir o acesso a oportunidades de educação formal de qualidade;
- Criação de plataforma que permita acesso à informação sobre as oportunidades que existem na cidade e que apoie os jovens na sua trajetória;
- Apoiar programas em territórios selecionados para capacitar os jovens, gerar experiência e ampliar suas referências.
O estudo também tem apoioe da Firjan SENAI SESI, Instituto Coca-Cola Brasil, Fundação Roberto Marinho e Secretaria Especial da Juventude Carioca (JuvRio)..
> Confira o mapeamento do Ecossistema de Inclusão Produtiva Jovem
Comunicação Veredas com informações de Decola Cria